Movimentos musicais no Brasil

Tivemos quatro grandes movimentos musicais no Brasil. O primeiro e o mais reconhecido foi a Bossa Nova que se iniciou no final da década de 50 no Rio de Janeiro. Outro grande movimento foi o Clube da esquina que teve seu início em Belo Horizonte. No final da década de 60, em meio à ditadura militar, surgiu o Movimento Tropicalista. O último movimento musical que ocorreu no Brasil foi, no início da década de 90, com o pernambucano Chico Sciense, que deu origem ao Movimento Manguebeat.

A Bossa Nova surgiu no final da década de 50, mais precisamente no ano de 1958, e foi um movimento associado ao crescimento urbano brasileiro, impulsionado pela fase desenvolvimentista da presidência de Juscelino Kubitschek. Os grandes nomes deste movimento são: Tom Jobim, João Gilberto, Vinícius de Morais e Luiz Bonfá. As letras das músicas abordavam temas leves e descompromissados, eram baseadas na literatura e na vida cotidiana do Rio de Janeiro. Foi nesse movimento que se desenvolveu a prática do “canto-falado” ou de “cantar baixinho” no lugar da valorização da grande voz.

“Chega, de saudade
a realidade, É que sem ela não há paz,
não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai”
(Chega de Saudade – Tom Jobim e Vinícius de Moraes)

No início da década de 60, em Belo Horizonte, jovens músicos passaram a se encontrar na cena musical da capital mineira. Eles faziam um som que misturava as inovações trazidas pela Bossa Nova com elementos do Jazz, do rock in roll, da música folclórica dos negros mineiros, foi então que surgiu o Clube da Esquina, que teve como principais nomes Milton Nascimento, Marilton, Márcio, Lô Borges, Beto Guedes, Flávio Venturini, Toninho Horta, Fernando Brant, Tavinho Moura e Wagner Tiso. Diferentemente da Jovem Guarda e da Bossa Nova, o Clube da Esquina manteve uma temática política presente, mas de forma subjetiva. As letras das canções em geral revelam uma inclinação a construções mais abstratas, imagens ou metáforas que talvez sejam mais soltas de uma tradição poética da canção brasileira que as costumeiras da época, e mesmo depois. Pouco se encontra da estrutura de romance ou de narrativas, histórias ou situações das quais se podem tirar alguma moral ou mensagem.
 
“Porque se chamavam homens
Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem
Em meio a tantos gases lacrimogênios
Ficam calmos, calmos”
(Clube da Esquina – Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges)

No final da década de 60 surge o Tropicalismo, um movimento de ruptura que agitou o ambiente da MPB entre 1967/68. Os tropicalistas deram um histórico passo à frente no meio musical brasileiro. A música brasileira pós-Bossa Nova e a definição da “qualidade musical” no País estavam cada vez mais dominadas pelas posições tradicionais ou nacionalistas de movimentos ligados à esquerda. Contra essas tendências, o grupo baiano e seus colaboradores procuram universalizar a linguagem da MPB, incorporando elementos da cultura jovem mundial, como o rock, a psicodelia e a guitarra elétrica. Entre nos nomes de destaques estão Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Tom Zé e Os Mutantes. A inspiração dos tropicalistas era claramente o rock psicodélico e pelo movimento Hippie que tinha chegado ao seu auge no verão de 1969 com o Woodstock. As músicas eram consideradas subversivas pelos militares, que deram o golpe no ano de 1964.

“E eu digo não
E eu digo não ao não
Eu digo: É!
Proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir...”
(É proibido proibir – Caetano Veloso)

O Movimento Manguebeat, é considerado o último grande movimento musical ocorrido no Brasil. E, talvez o mais brasileiro dos quatro, já que fala da vida do homem nordestino, fala da convivência com o lixo que a sociedade produz e utiliza instrumentos e ritmos tipicamente brasileiros, como o maracatu. Surgiu na década de 90, na cidade de Recife, tendo como líder o ex-vocalista, já falecido, da banda Nação Zumbi, Chico Sciense. Chico foi o idealizador do rótulo “Mangue” e o principal divulgador das ideias, ritmos e contestações do Manguebeat. O outro responsável pelo crescimento desse movimento foi o Fred 04, vocalista da banda Mundo Livre S/A, que é o autor do primeiro manifesto, escrito em 1992, intitulado “Caranguejo com cérebro”.
O objetivo do movimento surgiu de uma metáfora idealizada por 04, ao trabalhar em vídeos ecológicos. Como o mangue é o ecossistema biologicamente mais rico do planeta, o Manguebeat precisava formar uma cena musical tão rica e diversificada como os manguezais. Devido a principal bandeira do mangue ser a diversidade, a agitação na música contaminou outras formas de expressão culturais como o cinema, a moda e as artes plásticas. O Manguebeat influenciou muitas bandas de Pernambuco e do Brasil, sendo o principal motor para Recife voltar a ser um centro musical, e permanecer com esse título até o momento. Entre as bandas que se destacam estão Mundo Livre S/A, Chico Science & Nação Zumbi, Sheik Tosado, Mestre Ambrósio, Eddie, Via Sat, Querosene Jacaré, Jorge Cabeleira, Arrastamangue e Caiçara.


“Estou enfiado na lama.
É um bairro sujo.
aonde os urubus têm casas.
E eu não tenho asas.
Mas estou aqui em minha casa,
aonde os urubus têm asas
eu vou pintando, segurando as paredes do mangue do meu quintal
Manguetown...”
(Manguetown – Chico Sciense)

7 comentários:

  1. Muito bom!!!

    Esta de Parabéns bem sintetizado e informativo

    ResponderExcluir
  2. E a jovem guarda e musica de protesto com legiao urbana, capital inicial, paralamas do sucesso , etc ????????????????

    ResponderExcluir
  3. E a Geração 80 com legiao urbana, capital inicial, paralamas do sucesso , etc ????????????????

    ResponderExcluir
  4. Eu estou vendo que algumas pessoas têm cobrado a Jovem Guarda e o período de ascensão do rock brasileiro dos anos 80 como movimentos claramente identificáveis na música bradileira, e por algum motivo eu acredito que a Jovem Guarda poderia até ser cotada entre esses, mas o período áureo do rock brasileiro nos anos 80 não representou uma linguagem musical interligada e que pudesse ser visto como algo que ia na mesma direção; não me pareceu uma concepção nova da música que se refletia em todos os músicos de rock no período. Vejo mais como um período de maior abertura ao rock, mas as bandas não seguiam temáticas tão comuns em todos como no tropicalismo, por exemplo.
    No caso da Jovem Guarda eu digo mesmo, mas se diferencia por estarem enquadrados, sabe Deus porque, num grupo e período claramente identificados. Não teve a relevância histórica dos outros, a meu ver. O Manguebeat, por exemplo, traz uma nova concepção de música, um novo estilo. A Jovem Guarda era um reflexo do rock do final dos anos 50 num período em que o próprio rock mundial já estava em outro rumo com as primeiras experimentações psicodélicas e o proprio Have metal.

    ResponderExcluir